Estradas
Fiquei pensando para onde o nosso medo nos conduz. Em um ano em que resolvi que quero ter constância na vida e manter bem o que já estava minimamente funcionando, faz parte do processo ter consistência na coragem. Não quero ser alguém que se paralisa pelo medo. Para onde o meu medo me levou? Me pergunto em looping, tentando acessar aquele lugar que eu sempre joguei debaixo do tapete.
Mercúrio está entrando em retrogradação, o que significa que chegou o tempo de parar, respirar e tentar rever alguns pontos antes de seguir em frente. Serão mais ou menos 20 dias para eu mergulhar debaixo do meu tapete interno e compreender o que fazer com cada um dos meus monstros.
Isso já começou na terapia. Estamos tentando vencer o maior deles (e digo no plural, porque a minha terapeuta é parte importante para me ajudar a chegar lá). A sessão de ontem não foi fácil. Eu sabia que não seria. Eu tenho essa mania de dizer que o mundo seria melhor se as pessoas fizessem terapia — que esse é dinheiro mais bem gasto do meu mês —, mas sei que muita gente foge disso justamente porque não é fácil olhar para cada sombra, para cada ferida, e dizer "isso também sou eu". É um processo. A vida é cíclica, e tudo é um processo. Eu já fugi deles também. Quem nunca? Entretanto, há um momento em que a corrida se dá em um beco sem saída: ou a gente enfrenta os nossos lados mais sinistros ou dá com a cara no muro alto, impossível de ser pulado. Nessas horas, a terapia é uma estratégia bem poderosa de sair desse beco.
O fato é que eu não quero ser essa pessoa que foge. Não mais. No segundo semestre eu faço 35 anos, não quero chegar aos 40 com os mesmos problemas de sempre. Farei 35 anos, mas hoje, ao espiar o que há debaixo do meu tapete, me sinto uma menina de 5. Me assusto, tremo, suo frio, desejo correr para as colinas sem olhar para trás. Contudo, o que quero levar disso, desse ser menina, é outra sensação. Quero ter comigo apenas o frio na barriga e a ânsia de desbravar o mundo com leveza. Muitas vezes os adultos menosprezam a força das crianças. Eu, na metade da minha terceira década, quero mostrar para aquela que habita em mim que, sim, a gente consegue fazer o que deve ser feito.
Para onde os meus medos me conduzem? Ainda não sei. É difícil pensar racionalmente quando o pavor toma conta. Entretanto, mesmo sendo uma caminhada longa e dura, sinto que preciso descobrir. Só assim eu poderei seguir passo a passo pelo caminho da direção oposta.