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Boletim do site Algumas Observações, da escritora Fernanda Rodrigues. Clique aqui para ler o e-mail no seu navegador.

Ressignificar

O amor ainda pulsa, ele ainda inunda o que há em mim. Foi isso o que pensei ao longo do último mês do ano, aquele que foi o meu preferido por muito tempo. Dezembro se anuncia com a chegada do verão, do Natal e daquela palavra de ortografia perigosa: réveillon. Acho bonito como o nosso povo ressignificou tudo. Desejamos felicidades nas vésperas, na tentativa de prolongar as 24 horas oficiais do Natal e do Ano-novo. Sempre queremos mais festas e, por consequência, mais esperança.

Sair pelas ruas e ver a decoração dos pontos turísticos com os olhos fascinados de uma primeira vez. Fui adepta disso por muitos anos, mesmo na fase adulta. Quem disse que papai Noel não existe? Uma vez respondi a um aluno, quando perguntada sobre a existência do Bom Velhinho, que tudo o que a gente acredita é verdadeiro. Sigo acreditando nisso.

Certa vez tentei explicar para as minhas amigas peruanas o que é o tal do réveillon: a ceia, o vestir de branco, o pular as sete ondas, o estar em uma turma gigante que inclui família, amigos, vizinhos e quem mais quiser chegar. Tudo muito complexo para uma única troca de folhinha na parede. Mudam-se os números no calendário. Muda-se a vida? Brasileiros gostam de festejar, muitas vezes para se sentirem vivos e pulsantes. Talvez essa seja a nossa maior diferença com outros povos: a necessidade de não só saber, mas de sentir que se está vivo.

Releio os parágrafos já escritos e percebo que estou dando voltas. As decorações de fim de ano já não são as mesmas de uma década atrás, em que duendes amarelos faziam fotos minha com aquele que, um dia, foi o homem que mais amei. Não. Hoje a decoração é mais modesta e compete com pessoas que — forçosamente — foram obrigadas a viverem na rua.

Há um retrocesso: o Brasil voltou a figurar no mapa da pobreza e não precisamos de a ONU nos sinalizar isso. Em qualquer voltinha até a esquina, tudo fica nítido. Há um retrocesso: caminho só há uma década. Não consigo entender o que trouxe o meu país até aqui. Tampouco, me compreendo. Por 10 anos venho tentando descobrir o que sobrou da magia do Natal depois que o coração se rasgou em mais de mil pedaços. Como cicatrizar ferida que sempre se reabre naquela que costumava ser a data preferida de todas?

Sendo uma data religiosa, recorro a tempos remotos. São as palavras bíblicas que me vêm à mente: "amai ao próximo como a ti mesmo". Era isso, não era? A chave do Natal — e de todas as outras épocas do ano — está no amor. E é impossível amar o outro se a gente não se ama. Irônico pensar que numa era de terapias, coaches e goodvibes, a resposta esteve pronta, na nossa cara, há milênios.

As pessoas ao meu redor sempre souberam o quanto eu amo o Natal, mesmo não sendo a pessoa mais religiosa do universo. O que as pessoas nunca souberam é dessa batalha interna que travei na última década: a ressignificação. O bom é que todo clichê só se torna clichê porque tem algo de verdadeiro nele. O da vez é aquele que diz que "o tempo cura tudo" — e cura mesmo. Talvez por isso eu tenha resolvido dar presentes depois de tanto tempo sem ter tido forças para pensar nisso. Talvez por conta disso, meus amigos, mesmo sem se conhecerem ou saberem das minhas lutas internas, tenham me mandado presentes via correio, com a justificativa do "sei o quanto você gosta dessa data". O tempo me lembrou que é possível fortalecer afetos e trocar carinhos. E isso vem de dentro.

Clarice tinha razão quando apareceu em um sonho no início do semestre e me disse que “algo floresce no Natal". Eu só não sabia que quem floresceria seria eu.

Carinho recebido por correio. 💚

Dezembro

Achei que só fosse te escrever no ano que vem, mas aqui estou. No fundo, acho que não conseguiria virar o ano sem fazer bons votos e enviar uma dose do meu amor.

Este fim de ano foi bem desafiador, porque tinha muitas demandas e estava muito cansada. Entretanto, tudo deu certo. Tomei a terceira dose da vacina, reencontrei pessoas especiais, entreguei todos os trabalhos e, agora, tirei férias. Meu objetivo maior é descansar em dezembro e em janeiro. Espero que dê certo.

No fundo, resolvi escrever porque me comunicar com você é parte importante da minha vida. Passei os últimos 3 dias fazendo uma revisão intensa do meu ano e perceber que enviei a newsletter com mais regularidade me deixou feliz. Ainda não estou na frequência que considero ideal, mas “melhor feito do que perfeito”, certo?

Como disse acima, janeiro será mês de férias/planejamento. Então, não sei se apareço aqui na sua caixa de entrada mês que vem. Em fevereiro, é certeza. De qualquer modo, você pode me escrever sempre que quiser (contato@algumasobservacoes.com). Com férias ou não, as portas estão sempre abertas por aqui.

Espero que seu Natal tenha sido bom e que seu 2022 te dê muita saúde, muito amor, muitos momentos memoráveis, um título de copa do mundo e um presidente novo e democrático! :)

Até o ano que vem,
Fernanda Rodrigues

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