Silêncio
Tenho uma lista de coisas que me fazem feliz em um dia ruim: banho quente, soneca, bolo de pote, olhar o céu, escrever, voltar a ler os meus poetas favoritos, brincar com as gatas, fazer faxina, respirar. Tenho uma lista, mas sempre me esqueço dela quando o dia desanda sobre a minha cabeça.
O dia desanda sobre a minha cabeça quando abro os sites de notícias, quando a enxaqueca vem sem motivos, quando as pessoas ne cobram respostas impossíveis, quando me percebo abandonada por mim mesma, quando as palavras me faltam. Aliás, quando não escrevo, morro mais do que qualquer outro escritor que já tenha morrido por falta de colocar pra fora um bom texto.
A falta de colocar para fora um bom texto me prende num labirinto de paredes bem estreitas e com o teto muito baixo. Ali, não é possível me movimentar. Rastejo, tateando no escuro. Não há ninguém para me socorrer — sei que sou eu por eu mesma, que preciso encontrar meu caminho. Me falta ar.
Me falta o ar, e isso não afeta só a mim. Quem está ao meu redor sofre também, porque não consegue estabelecer uma comunicação decente. Tudo é dor e sofrimento. Sofrimento inexplicável verbalmente, espremido a espreitar a folha em branco.
Folha em branco. Apesar da dor de não ter texto, penso que — em alguns momentos — é melhor se calar do que sair escrevendo bobagens sem sentido. Não sou obrigada a sentir e dizer tudo, a todo tempo, o tempo todo, como em um jogo de tênis em que o mundo me lança uma bola e eu deva devolvê-la no mesmo instante. Reitero: pior do que morrer por inércia é ser irresponsável com o que lanço ao universo. Sendo assim, prefiro adentrar no território do silêncio.
Silêncio. Há pessoas que se angustiam com a possibilidade de fechar a boca. Penso que fechar a boca é abrir os ouvidos para os outros e principalmente para si mesmo. Só quando calamos, ouvimos o coração.
E é no coração que mora a sabedoria da palavra que transforma. Só com a possibilidade de ouvi-lo que posso ser fênix e renascer.