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Boletim do site Algumas Observações, da escritora Fernanda Rodrigues. Clique aqui para ler o e-mail no seu navegador.

Silêncio

Tenho uma lista de coisas que me fazem feliz em um dia ruim: banho quente, soneca, bolo de pote, olhar o céu, escrever, voltar a ler os meus poetas favoritos, brincar com as gatas, fazer faxina, respirar. Tenho uma lista, mas sempre me esqueço dela quando o dia desanda sobre a minha cabeça.

O dia desanda sobre a minha cabeça quando abro os sites de notícias, quando a enxaqueca vem sem motivos, quando as pessoas ne cobram respostas impossíveis, quando me percebo abandonada por mim mesma, quando as palavras me faltam. Aliás, quando não escrevo, morro mais do que qualquer outro escritor que já tenha morrido por falta de colocar pra fora um bom texto.

A falta de colocar para fora um bom texto me prende num labirinto de paredes bem estreitas e com o teto muito baixo. Ali, não é possível me movimentar. Rastejo, tateando no escuro. Não há ninguém para me socorrer — sei que sou eu por eu mesma, que preciso encontrar meu caminho. Me falta ar.

Me falta o ar, e isso não afeta só a mim. Quem está ao meu redor sofre também, porque não consegue estabelecer uma comunicação decente. Tudo é dor e sofrimento. Sofrimento inexplicável verbalmente, espremido a espreitar a folha em branco.

Folha em branco. Apesar da dor de não ter texto, penso que — em alguns momentos — é melhor se calar do que sair escrevendo bobagens sem sentido. Não sou obrigada a sentir e dizer tudo, a todo tempo, o tempo todo, como em um jogo de tênis em que o mundo me lança uma bola e eu deva devolvê-la no mesmo instante. Reitero: pior do que morrer por inércia é ser irresponsável com o que lanço ao universo. Sendo assim, prefiro adentrar no território do silêncio.

Silêncio. Há pessoas que se angustiam com a possibilidade de fechar a boca. Penso que fechar a boca é abrir os ouvidos para os outros e principalmente para si mesmo. Só quando calamos, ouvimos o coração.

E é no coração que mora a sabedoria da palavra que transforma. Só com a possibilidade de ouvi-lo que posso ser fênix e renascer.

Ter gatos é aprender a contemplar os momentos de silêncio.
(Na imagem as minhas companheiras de vida:
Poesia, à esquerda, e Camomila, à direita.)

🤔 Agosto

Espero que você que me lê esteja bem, dentro do possível.

Já tem quase dois meses que não apareço, então muita coisa aconteceu por aqui, ainda que o tempo se arraste. Me vacinei contra a covid-19 (primeira e segunda doses), mas ainda estou esperando aquele prazo de 15 dias após segunda dose para pensar em fazer algo na rua. Enquanto isso, aproveitei esse tempo intenso de transformações para calar e ouvir. Acho que o inverno é um tempo propício para cuidarmos das nossas reservas internas e foi o que fiz. Por isso o sumiço e por isso também o tema dessa nossa conversa: silêncio.

Enquanto escrevo aqui, me lembro de que O Rappa tem um álbum chamado O Silêncio que Precede o Esporro. Não sei o que esperar do futuro, não consigo visualizar um caminho quando penso no panorama coletivo. Nesse sentido, talvez eu esteja reservando a minha energia para a luta contra o que virá (?). O mundo está um caos, e essa tensão se faz tão presente quanto a fumaça de um país que queima por inteiro.

Muita coisa mudou internamente, e eu ainda tenho pensado muito sobre tudo. Não tenho me cobrado de ter uma resposta imediata para o que está fora de mim, mas sigo separado o joio do trigo. Pensando individualmente, acho que, cada vez mais, sigo em busca do que me mantém em paz. E a paz ultimamente vem pautada, dentre outras coisas, pela reciprocidade.

Ando bem cansada das cobranças das pessoas para que eu esteja presente na vida delas o tempo todo (memas pessoas que, quando eu preciso, elas demoram, ou não vêm por qualquer motivo que seja). Acho que a reciprocidade leva ao equilibrio e me equilibrar está muito relacionado com saber falar e calar. Não sei se estou me expressando bem; mas, na minha cabeça, uma coisa leva à outra. Full circle. Por isso não me forço mais em manter os contatos (quem tem que estar aqui, estará). Por isso desativei as notificações de todas as redes sociais/app de mensagens (o que é urgente é REALMENTE importante PARA TODOS?). Por isso não escrevi antes. Quando eu não tenho nada de útil para acrescentar, melhor ficar quieta, não?

Seguimos refletindo.

📅 Agenda

Vamos à agenda para o fim de agosto e para o que já está marcado para setembro?

📙Poetas negras brasileiras: uma antologia

Acabou de chegar às livrarias o livro Poetas Negras Brasileira: uma antologia. A obra foi organizada pela escritora Jarid Arraes e conta com textos de autoras negras de todo o Brasil, incluindo um poema meu, chamado "Ruído". Publicada pelo selo Ferina e pela Editora de Cultura, a antologia tem ainda com nomes de peso da literatura contemporânea. Além da própria Jarid, há poema da Conceição Evaristo, da Mel Duarte e da Lubi Prates dentre as autoras. O bacana da obra é que há escritoras de todas as idades (dos 18 aos 70) e de vivências (de vida e literárias) totalmente distintas. Isso traz uma riqueza grande ao livro. Fica, portanto, a dica, para quem gosta de desbravar a potência que há nos textos brasileiros produzidos nos últimos anos.

O livro está à venda em todas as livrarias.

👋 Até mais!

Se você leu até aqui, muito obrigada! 💚
Como sempre, adoraria se você me respondesse para compartilhar seus pensamentos sobre tudo isso que disse e sobre qualquer outra coisa que você queira dialogar.

Te espero,
Fernanda Rodrigues

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