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Boletim do site Algumas Observações, da escritora Fernanda Rodrigues.
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Manual de instrução

— Pés no chão, estrela no céu.

— O quê?

— Pés no chão, estrela no céu. No meio do caminho, o coração.

— É assim que resolvo?

— É. Pés no chão, estrela no céu. Coração no meio. A fórmula é simples.

— Há atalho?

— Não. Talvez um pequeno desvio, na região da cabeça, onde vivem as velhas histórias.

— Mas não é possível que seja tão simples assim!

— Você pode se dar o direito da dúvida, mas tente: pés no chão, estrela no céu...

— ...e coração no meio.

— Sim. Nem coração demais, nem de menos. No meio.

— Essa é a fórmula?

— É. Essa é a fórmula.

“Pés no chão, estrela no céu.” — Era isso que eu sempre ouvia. Antes das perdas, da dor, do vazio, do caos: “pés no chão, estrela no céu”. Será que existe uma ligação entre o cosmo e o mínimo? Entre o planeta mais distante e a célula recém-formada?

— O caminho de descoberta é infinito, e tudo é uma questão de arquitetura.

— Questão de arquitetura?

Às vezes, o vô Pedro parecia um terapeuta místico inacessível.

— Recolha-se à caverna, saindo dela. — Ele soltava já se dirigindo ao silêncio.

Anos depois, a caverna de Platão e a caverna de seu Pedro se cindem ferozmente. Neste momento, sou eu que estou aqui, mais uma vez, confuso. Ciclicamente sigo adiante, tentando decifrar o enigma do conflito da vida. Agora, sem seu Pedro para me dizer a diferença entre entrar na caverna e sair dela.

Tiro os sapatos. Olho para o céu nublado e sem estrelas. Insisto em encontrar respostas quando ainda não compreendi as perguntas.

Foto de um domingo em que eu estava tentando colocar o meu coração no meio.

Setembro

Este mês foi agridoce por aqui. Se de um lado eu celebrei a minha vida (e a de pessoas que amo), vi crianças lindas chegando a este planetinha mucho loco, pari duas antologias que ajudei a organizar, ainda planejei e participei de um sarau e encontrei gente querida; por outro também vi muitas pessoas que amo perdendo pessoas importantes e estou me vendo um processo similar.

Certa vez, um dos meus alunos adolescentes me perguntou qual é a pior parte de ser adulto. Em meses como este setembro de 2022, essa pergunta me volta à mente. Talvez, a pior parte seja essa: saber que, enquanto vivemos uma felicidade, há alguém que sofre. Que, por mais que racionalmente a gente saiba que vai ser melhor a despedida, emocionalmente dói. Que a vida, no fundo, é provar desse eterno agridoce.

“Pés no chão, estrela no céu. Coração no meio.” talvez eu tenha escrito esse conto, porque era isso que eu gostaria que alguém me dissesse. Essa história nasceu num dia estranho, em que tudo começou dando errado e que acabou cheio de dor. Essa história é fruto de um respiro de acolhimento, da minha volta ao Clube da Escrita para Mulheres, do momento de doçura na acidez do respirar. (Você pode saber mais sobre o Clube lá no Instragram.)

“Pés no chão, estrela no céu. Coração no meio”.

Seguimos.

Rasgos dentro da minha própria pele

Como disse nas edições anteriores da newsletter, meu livro novo está chegando. O trabalho ao longo de setembro esteve em torno de fazer todas as correções necessárias no miolo e na capa (tenho a sensação de que quase enlouqueci a minha diagramadora com isso). Na sequência, esperei a editora retornar com os arquivos modificados para bater o martelo quanto às mudanças. Bati o martelo e sugeri mais 5 pequenos ajustes. Agora os arquivos estão com eles de novo. Então, em breve, teremos novidades em relação a isso também.

Acho muito engraçado como algumas coisas são e como nós, escritores, vamos vivenciando os nossos livros conforme eles acontecem. Semana passada, conversava com um amigo/ex-aluno meu. Ele pediu para usar um texto, o poema “Colagem”, do meu primeiro livro (A Intermitência das Coisas), em uma apresentação que ele iria fazer. Na justificativa da escolha, uma frase que salta e me faz pensar em Rasgos dentro da minha própria pele. Uma nova camada, um novo entendimento, para os meus dois livros. Algo que não havia pensado antes e que, se não fosse o olhar dele, de leitor, eu não pensaria.

Também foi curioso um outro processo de descoberta que aconteceu ao longo dos últimos 3 ou 4 dias: peguei um livro de poemas do Mia Couto, que li uma única vez em 2016, com o objetivo de separar alguns textos para trabalhar com um grupo de alunos nas aulas. Para minha surpresa, muito desse livro conversa com o Rasgos dentro da minha própria pele. Há algo que ficou no meu inconsciente, algo que trouxe dessa leitura comigo até o momento da escrita, 4 anos depois, e que se revelou agora 6 anos após esse primeiro contato.

O inconsciente tem desse juntar de teias que me deixa de coração quente. É bonito de ver como essa rede literária se cruza e finca raízes no nosso ser. Pode soar clichê, mas escrever é MESMO uma jornada!

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À direita uma máquina de escrever preta sobre uma mesa. À Esqueda, sobre a mesa e ao lado da máquina de escrever, folhas de papel sem pauta, uma caneta e flores de lavanda.

Foto por Susan Weber, via Unsplash.

Aulas de escrita e outros trabalhos

Aproveitei setembro para repensar e reorganizar o meu trabalho como professora de escrita. A mentoria virou um minicurso que pode ser feito de forma individual ou em pequenos grupos. Além disso passei a oferecer acompanhamento de escrita de projetos literários, encontros de devolutivas para prosa curta e poesia e plantões de dúvidas.

Saiba mais e venha estudar comigo!

Além disso, tive a honra de participar de alguns projetos de revisão ainda inéditos (mais para frente, conto mais!) e da equipe do livro (já publicado) O Pequeno Vendedor de Chicletes para Mediadores de Leitura, da Aline Caixeta.

Como disse anteriormente, em setembro nasceram duas antologias que ajudei a organizar:

  • Marés é uma publicação do Projeto Escrita Criativa e conta com textos de 16 autores brasileiros, argentinos e espanhóis radicados ao redor do mundo. Está disponível nas versões livro físico (compre no Clube de Autores) e e-book (compre na Amazon);

  • Quando a Retina não tinha Filtros é uma organização minha e do poeta Rafael Farina. O livro apresenta aos leitores textos de cinco escritoras que fizeram o curso ministrado por nós dois, o Poesia ao Sol e à Sombra. O livro está disponível em e-book (compre na Amazon).

No Algumas Observações

Talvez você não tenha visto ou queira reler o que publiquei em setembro no blog, então seguem os links:

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Até breve!

Se você chegou até, clique em responder e me conte o que há na sua cabeça. 🙂💭
Como você se sente com a chegada da Primavera? Espero que, apesar de tudo e também por tudo, os pássaros voltem a cantar por aí, e que o processo eleitoral traga ares democráticos e felizes (ninguém aguenta mais o inferno que foram os últimos 4 anos!).

Até outubro,
Fernanda Rodrigues

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