Manual de instrução
— Pés no chão, estrela no céu.
— O quê?
— Pés no chão, estrela no céu. No meio do caminho, o coração.
— É assim que resolvo?
— É. Pés no chão, estrela no céu. Coração no meio. A fórmula é simples.
— Há atalho?
— Não. Talvez um pequeno desvio, na região da cabeça, onde vivem as velhas histórias.
— Mas não é possível que seja tão simples assim!
— Você pode se dar o direito da dúvida, mas tente: pés no chão, estrela no céu...
— ...e coração no meio.
— Sim. Nem coração demais, nem de menos. No meio.
— Essa é a fórmula?
— É. Essa é a fórmula.
“Pés no chão, estrela no céu.” — Era isso que eu sempre ouvia. Antes das perdas, da dor, do vazio, do caos: “pés no chão, estrela no céu”. Será que existe uma ligação entre o cosmo e o mínimo? Entre o planeta mais distante e a célula recém-formada?
— O caminho de descoberta é infinito, e tudo é uma questão de arquitetura.
— Questão de arquitetura?
Às vezes, o vô Pedro parecia um terapeuta místico inacessível.
— Recolha-se à caverna, saindo dela. — Ele soltava já se dirigindo ao silêncio.
Anos depois, a caverna de Platão e a caverna de seu Pedro se cindem ferozmente. Neste momento, sou eu que estou aqui, mais uma vez, confuso. Ciclicamente sigo adiante, tentando decifrar o enigma do conflito da vida. Agora, sem seu Pedro para me dizer a diferença entre entrar na caverna e sair dela.
Tiro os sapatos. Olho para o céu nublado e sem estrelas. Insisto em encontrar respostas quando ainda não compreendi as perguntas.